segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Em meio à infinita bagunça das coisas minhas no cantinho meu

05/09/09

“Peixe boi, feixe luz
Quem foi que fui”

(Chico César, Feixe)

Em meio à infinita bagunça das coisas minhas no cantinho meu, o reflexo que se olha no espelho é assustadoramente meu.

A imagem canta, de voz frágil. Levemente machucada pela força dos vai-e-vens da vida – o vento, as temperaturas, os extremos do seco e da água congestionaram os pulmões. Mas o que congestiona mesmo é a fragilidade das segurança s e certezas que o mundo propõe pra gente. O registro, o salário, o contrato. Tudo o que se considera centro de vida cá no mundo se propõe tão rígido, tão sólido... E de um minuto pro outro some, como se fosse água pra evaporar.

Não, nada do que há no mundo é nosso, de fato. As certezas que eu dou (pra tantos), em verdade não me convencem. Elas não se convencem, por si mesmas, não se bastam.

Os olhos que fugiram do próprio reflexo no espelho estão afundados em olheiras enormes. Marrons. De pouco dormir, de muito fazer. A bagunça do quarto também é reflexo disso. E a emoção que até ontem se encontrava tão organizada, tão apoiada no trabalho que me consumia e me fazia entregar muito mais aos outros do que a mim, permanece cantando. Mas frágil...

Nada do mundo é meu, não... Mas a minha voz é quase. Quase que definitivamente minha, de tão “eu”.

O reflexo que vi no espelho me assustou porque era de uma menina. Um corpo que permanece delineando cada vez mais curvas, e que eu me orgulho tanto por ter fortalecido, crescido absurdamente, e está-lo lançando (em pleno movimento) à vida... Esse corpo, cuja voz cantava só, entre quatro paredes... Me trouxe a sensação (horripilante, mas que eu não rejeito) de que, no fundo, eu não deixo de ser a mesma menina de sempre. E não pela timidez, que sumiu, junto com a imaturidade. Mas há um lugar de mim que, na essência, ainda quer as mesmas coisas. Embora os sonhos em si, como conceitos, já sejam entendidos de forma diferente, de tanto que estão sendo praticados...

Fugi da voz e vim pras letras pra organizar a emoção que se assustou com o tanto de mim que cá está, novamente, na sua eterna sina entre quatro paredes.

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